13 de mar. de 2016
22 de mai. de 2011
A transformação do Padeiro
Para Deleuze, a função do filósofo não é a reflexão nem a contemplação. A função do filósofo é criar conceitos. Para ele, a criação depende de uma ideia. Os criadores criam ideias. Desde o matemático até o cineasta, todos dependem de uma ideia para criar. Ele lembra que existe uma função matemática que se chama a Transformação do padeiro. Você tem um quadrado feito de massa. estique e transforme em um triângulo. Dobre e sobreponha as partes, amasse. Em uma certa altura terás dois pontos que estavam muito próximos e com o movimento ter se distanciado tanto que pode agora estar em um ponto muito distante em relação aquele que estava próximo. E se colocarmos essa ideia matemática para pensar em conhecimento? Kant dizia que por mais que saibamos, jamais saberemos tudo. A dialética e seu movimento contínuo. Morin lida com isso como se fosse uma trama, ideia de complexo. E eu penso que essa ideia da transformação do padeiro une a ideia dialética de movimento e a ideia de complexidade de Morin. Porque as tramas são fixas, não mudam de lugar. Mas se eu tenho uma massa e coloco tinta nela, vejo que se no início eu tenho um ponto amarelo e azul próximos, logo estes pontos se distanciam ou se unem, transformando-se em outra cor. Isso acontece com as revoluções. Elas se movimentam tanto, há tantos conflitos e desejos e dominação que os pontos se distanciam ou se aproximam tanto que podemos até pensar que os discursos são unos. Ou podem parecer que são muito diferentes. Se esse é o movimento natural, não podemos reprimir o espírito revolucionário do indivíduo apenas porque os pontos no final podem parecer que sumiram, mudaram ou se distanciaram. O espírito revolucionário e crítico é o devir.
so para esclarecer, não sou filósofa, nem entendida de nada. Sou mais uma ignorante.
16 de mai. de 2011
TV e ideologia por Adorno
Em primeiro lugar, compreendo "televisão como ideologia" simplesmente como o que pode ser verificado, sobretudo nas representações televisivas norte-americanas, cuja influência entre nós é grande, ou seja, a tentativa de incutir nas pessoas uma falsa consciência e um ocultamento da realidade.
29 de nov. de 2010
Ophelia e Zeitgeist
Fazendo uma pesquisa de tendências no Tumbrl, um site de imagens utilizado por jovens do mundo do todo, fiquei impressionada com a quantidade de fotos e desenhos melancólicos e escapistas. Entre uma foto ou outra, a imagem de Ophelia, de Shakespeare estava sempre presente. Em uma busca no Google a imagem surge em milhares de locais. Em moda, chamamos o Espírito do Tempo de Zeitgeist e é isso que demonstra essa identificação de garotas do mundo todo por Ophelia.
Ophelia, no contexto literário de William Shakespeare, nos proporciona uma complexidade das realidades humanas e é um mergulho no significar. Mais Dionísico que apolíneo, flerta com a cultura pagã e deixa a interpretação de todo o conteúdo simbólico para o leitor. Escrita entre 1585 e 1601, a peça é a mais famosa e com uma qualidade de atemporalidade que quase nos permite transportá-la para os dias de hoje e analisá-la.
Hamlet é um príncipe atormentado pelo desejo de vingar a morte do pai. Ophelia é utilizada como ferramenta política por ele, pois ela é filha de Polônio, suspeito de ser o assassino. Hamlet a deseja mas não confia nela, pois transfere a desconfiança despertada por sua mãe, Rainha Gertrudes, que não espera o tempo de luto e se casa com o pai de Ophelia. Esta deseja Hamlet mas não consegue saber o que realmente quer, já que é manipulada pelo pai e pelo irmão. Ao ver que Hamlet enlouquece, sente-se culpada e enlouquece também. A cena de sua morte, descrita por Gertrudes, é uma das mais belas passagens da literatura:
Onde um salgueiro cresce sobre o arroio, E espelha as flores cor de cinza na água; Ali, com suas líricas grinaldas De urtigas, margaridas e rinúnculos,
E as longas flores de purpúrea cor A que os pastores dão um nome obsceno E as virgens chamam de "dedos de defunto", Subindo aos galhos para pendurar Essas coroas vegetais nos ramos, Pérfido, um galho se partiu de súbito, Fazendo-a despencar-se e às suas flores Dentro do riacho. Suas longas vestes Se abriram, flutuando sobre as águas; Como sereia assim ficou, cantando Velhas canções, apenas uns segundos, Inconsciente da própria desventura, Ou como um ser nascido e acostumado Nesse elemento; mas durou bem pouco Até que as suas vestes encharcadas A levassem, envolta em melodias, A sufocar no lodo. (Hamlet, Shakespeare-p.145)
A imagem de Ophelia se afogando entre salgueiros é um ícone romântico e escapista, reeditado no fim do século XIX pelos pré-rafaelitas. Shakespeare inaugura o indivíduo moderno com Hamlet. Do indivíduo grego e sua essência, do indivíduo cristão que deve se sacrificar em nome de algo. Com o cristianismo há a alma. E tendo alma, há tormento.
A condição de saber que não somos livres e de não termos poder de escolha, nos enlouquece à medida que percebemos isso. A moda é um elemento que nos conduz a pensar como sujeitos em unidade de si e unidade de grupo. Ophelia enlouquece pois é difícil conciliar as duas coisas. A solidão de Ofélia encontra sua natureza selvagem, na água. Como se estivesse se colocando em solidão intencional, Aloneness, ou seja, inteiramente em si.
A condição de saber que não somos livres e de não termos poder de escolha, nos enlouquece à medida que percebemos isso. A moda é um elemento que nos conduz a pensar como sujeitos em unidade de si e unidade de grupo. Ophelia enlouquece pois é difícil conciliar as duas coisas. A solidão de Ofélia encontra sua natureza selvagem, na água. Como se estivesse se colocando em solidão intencional, Aloneness, ou seja, inteiramente em si.
O inteiramente em si é um fenômeno moderno. O sujeito e a consciência de si é conseqüência da socialização e para que eu exista, preciso do outro. Jung diz que “o si mesmo representa o objetivo do homem inteiro e a realização de sua individualidade. E a dinâmica desse processo é o instintivo”.
O instinto de Ophelia falhou ao permitir que fosse conduzida por outros. E essa condução leva ao desejo de aprovação da identidade. Não sou nada se ninguém me reconhecer.
O instinto de Ophelia falhou ao permitir que fosse conduzida por outros. E essa condução leva ao desejo de aprovação da identidade. Não sou nada se ninguém me reconhecer.
A morte de Ophelia é uma forma confinamento. Para Foucault, a era moderna foi marcada pela necessidade de vigiar, punir e confinar. A loucura é inadmissível nas novas formações urbanas. E as mulheres foram cada vez mais confinadas em um âmbito doméstico. Deleuze vê que na pós-modernidade, o controle químico submete o corpo a uma dominação. Somos domesticados pela quantidade absurda de imagens e informações que vemos confortavelmente em nossas casas . Hoje as mesmas garotas que se identificam com Ophelia estão confinadas em frente aos seus computadores, trancadas em seus quartos. Ninguém mais precisa vigiar. O confinamento agora é por conta própria. Sociedade de controle.
A água onde Ophelia acaba confinada representa a mudança de humor. E sexo. É um elemento feminino, Dionisíaco e misterioso. A relação do pós-modernismo com a água e humor está ainda no controle químico. As imagens do Tumbrl são niilistas, escapistas, melancólicas ou então completamente coloridas, eufóricas e otimistas em relação ao amor. São imagens bipolares. Para Damásio, o corpo é responsável pela dor que é assimilada pelo Cérebro. Sem corpo não teríamos dor. É a adrenalina ou a serotonina que o Cérebro libera após as experiências que causam um impacto no corpo. E é o corpo que sente. O Cérebro apenas memoriza o processo. A dor e o trauma são esquecidos se logo após a experiência você for anestesiado, seja por álcool, drogas ou fluoxitina.
Ophelia é vitima da incapacidade de esquecer de Hamlet, um sujeito ressentido. A.C. Bradley diz que “a causa direta da irresolução de Hamlet é um estado de espírito anormal e num estado de profunda melancolia”. É preciso esquecer mas forçar o esquecimento é dominação. A tragédia, sob uma abordagem moderna, pode ser vista para um mundo que não se pode viver ou passar sem elas, segundo Harold Bloom. Mas hoje não queremos e não agüentamos mais sofrer. Então essas garotas e mulheres, que se identificam são Ophelias niilistas, esperando que um dia sejam felizes ou então esperando que a morte lhes traga felicidade.
Hoje, ainda que as mulheres estejam chegando ao poder, conquistando altos cargos em empresas ou que sejam donas de seu nariz, ainda é a busca de ser reconhecida em um mundo de homens baseado na lógica que as movem. Isso é preocupante ao perceber que a melancolia, escapismo e niilismo são reforçados pelo mass media. As garotas que não são reconhecidas pelos padrões de beleza ou de comportamento estão perdendo a si mesmas de vista em processos de distúrbios alimentares, plásticas e dietas que nunca acabam. Não temos como escapar do capitalismo, mas ele forma essas subjetividades achatadas. As mulheres precisam aprender a sofrer e a desejar o sofrimento, confiar na intuição e buscar tudo de si em busca da liberdade para escapar da dominação.
23 de out. de 2007
heroes
Robert Mapplethorp namorou Patty Smith que casou com Fred Sonic Smith do MC5 e que dizem que, só se casaram pois ela não precisava trocar o nome. O marido faleceu, assim como
Kurt Cobain, mas o suicídio de Cobain a deixou furiosa pois viu alguém disperdiçar a vida enquanto seus amigos lutaram até o fim pelas suas. Ela também pegou Sam Shepard, que escreveu o roteiro de Paris Texas e co-escreveu o roteiro de Zabriskie Point com Antonioni, este último que acabou de morrer em 2007 no mesmo dia que Ingmar Bergman.
Strange fruit
Gostava de acordar cedo, aos domingos, para ficar com meu pai e ele colocava para tocar no toca-discos Cartola, Billie, Ella, Lena Horne, Dizzie enquanto comíamos ovos cozidos com gema mole. Bons tempos...
Assinar:
Postagens (Atom)